Foi um diálogo
produtivo - eu comigo- no silêncio contemplativo que há entre nós. Uma
sinceridade de fatos expostos à mesa. Gostemos ou não, ali estavam eles: os
segredos e medos e agruras. Ali estava eu, aberta como uma cirurgia
cardiotorácica.
Disse a mim que
é em vão esperar por algo que talvez venha, talvez não. E estimulei uma
reflexão sobre como as pessoas mudam, inclusive eu. Sobre como o mercado muda,
o foco muda, inclusive o meu.
Fiz novas
descobertas sobre mim; atrás desse ‘eu’ que todos veem, tem mais gente do que
imaginava; falta-me, agora, saber quem é essa gente toda e o que posso fazer
com ela. Nesse debate, houve um embate característico: “o que fazemos agora?” –
‘fazemos’? O que faço eu, isso sim. Então falei pra mim que é assim que tem que
ser: comece onde está com o que tem e faça o que dá.
Não que isso
servisse de Prozac pra tormenta que sinto sobre o que devo fazer pelo resto da
vida. Foi mais como um tapa na cara, é verdade.
Reclamei comigo
que esse poliquerer de viver de tudo o que vejo é cansativo; que era hora de apostar
num caminho. Ora, me respondi, por que não viver do vento que bate na vela que
leva por alto-mar? Assim, ele me leva pra tudo que é novo (e de vez em quando
caminhos de outrora).
Eu rio,
portanto, de mim, desse papo maluco entre mim comigo. É de se rir, confesse,
dessa minha esquizofrenia em que reflito sobre eu mesma onde há de chegar.
Chegar mesmo, concordamos eu e eu mesma, não chegamos a conclusão alguma, mas a
discussão interna é eterna e fugaz. Embebida de coragem, a dieta começa agora,
a corrida, o novo roteiro, um romance completo, um novo jardim, pulo de
paraquedas em breve, faço outra tattoo, termino o último roteiro começado,
serei mais saudável, irei mais ao templo, começarei a meditar diariamente.
Até que meu eu
brigue comigo e façamos uma guerra: a preguiça me enrola e eu paro tudo no
meio; procrastino por vício. “Que linda essa música” – ei, volte ao eixo,
preste atenção no que está fazendo, eu digo a mim mesma. Mas é distração
premeditada, me recuso a fazer o que exijo de mim.
E digo a mim que
é melhor deixar a lista de livros de lado e ligar para o terapeuta então porque essa
DR minha comigo é um relacionamento disfuncional e cheios de desculpa pra
barriga continuar mole, as costas doendo e o futuro pra depois.