Mãe

23.7.14


Mãe, é medo ou fome que me come viva de dentro pra fora? É ansiedade imatura, isso de engolir congelado ou queimar a língua quando é quente demais? Sou eu que enlouqueço ou só cresço desajeitada dentro desse corpo suspenso?

Mãe? Oh Mãe, deixa a luz do abajur acesa depois que você fechar a porta? Pouco importa se por medo do escuro ou da solidão que me encontro. Noutro ponto da vida, eu diria, é frescura. Mas é agrura do ‘nada’, mãe. Tenho medo da morte; da minha, da sua, e do vizinho também.

E se o ‘nada’ acontece? Acho que a gente não morre, vive no limbo do nada, esperando tropeçar na calçada e é traumatismo craniano na certa! É a vida que espera o silêncio do vento pra soprar uma jura baixinho que leva a gente pra além do infinito.

E se a coragem para sair da cama não vir, Mãe? Me acorda às 7h? Senão, perco a hora; me acode se eu resmungar, me sacode até eu acordar. Mãe, esse chiado, vem do meu coração em arritmia ou da engrenagem do mundo? Confundo, me explica?

Mãe! Sou eu quem parou ou todo mundo correu pra todos os cantos? Esse terremoto dentro de mim que me aflige, que me diz já ser tarde, é verdade? É assim? Faz o horário de verão ser eterno, Mãe? Deixa meus dias mais longos, minhas dúvidas curtas e meus sonhos reais?

Mãe, cê se importa se eu pedir colo? Assim, no meio da vida, depois de crescida? Se eu chorar no seu ombro, num segundo de impasse. E Mãe, eu não peço favor já faz tempo. Na verdade, nunca pedi. Favor, pra mãe, não se pede. Você faz tudo o que pode e até o que não pode, mas no fim, os filhos caminham pra longe. Faz parte da andança, do movimento da vida.

Então, por favor ou por amor, posso ser filha até mesmo depois de ser mãe? Mesmo se esquecer o casaco no meio do inverno? Mesmo se perder o emprego ou o rumo? Mesmo se você odiar o seu genro? Mesmo se eu estiver de ressaca, ferrada, me deixa, ainda, ser filha?

Mãe, essa fome de mundo que consome o estômago é minha, mas herdei do seu sangue. Então, entoa seu mantra materno sobre a minha vida incerta e me protege de todo mal.


Amem, Mãe. Como diz o poeta, sem acento que é pra amar mais.

QUE TAL MAIS UM?

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