Fez-se Mar

15.9.14


O mar bate sereno na faixa marfim que se perde no horizonte. Meus pés afundam em areia fofa, e o calor que emana dela me traz uma leve embriaguez. Há um chiado característico das ondas que se faz música de ninar em meus ouvidos. O mundo, enfim, gira em câmera lenta.

Minha pequenez perto da imensidão azul safira que avança para beijar-me os pés, ludibria-me tanto que penso ser dona de um mini-reino de conchas e grãos de areia dourados.

O céu se contrapõe em um tom sobre tom acima do mar e a tela se divide em dois, como um quadro de Piet Mondrian, num cubismo perfeito de linhas retas; apenas as gaivotas causam espaçados borrões ao azul turquesa profundo e uniforme. Sob as lentes marrons, minhas pupilas contraem diante da grande bola iluminada que irradia sobre tudo, é quase dor, olhar diretamente para o sol que queima.

O vento contorna minha forma desleixada sobre a esteira, e sinto que todos os problemas do mundo são infundados quando olho adiante, ao perder de vista. Não há problemas que não tenham solução diante da calmaria de um mar em movimento.

Meus olhos se fecham involuntariamente agora. Meu corpo quer entrar em um semi-coma para preservar essa paz de espírito que irriga minha mente. As ondas me dizem que está tudo bem, o vento me cobre de calmaria. Sinto-me viva, em cada pedacinho de corpo que sou, no tintilar do sangue que corre em mim. Sorrio e inspiro a brisa salgada que vem dum outro mundo qualquer, é cheiro de frescor.


Antes de adormecer no sono dos justos, sob o grande ombrelone que me guarda dos raios mais intensos do sol da manhã, ainda me permito uma última reflexão difusa: como pode o homem esperar pelo paraíso quando ele está tão presente aqui, nesse momento? Por que esperar por uma tranquilidade eterna, se há, em vida, uma calmaria tão absorta e significante?

QUE TAL MAIS UM?

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