Gente bonitinha e a saga das transas inexistentes
12.3.14
Eles mal conseguem passar pela entrada do apartamento dela; ele fecha a porta com as costas, agarra a bunda dela com as duas mãos e aperta. Ela ri.
Ele para, olha pra
ela, “que foi?”. Ela desconversa,
olha para os sapatos e volta a beijá-lo, “nada,
continua”. Ele se desconecta dela completamente –ligado à porta apenas
pelas escápulas, a olha nos olhos e pergunta de novo “vai, que foi?”.
Agora séria, ela
insiste “nada, já disse... onde a gente ‘tava
mesmo?” e enlaça os braços em volta da cintura dele, as duas mãos
espalmadas nas costas largas da camisa xadrez. Mas ele não cai, obviamente; segura
os ombros dela, “onde você me diz por que
está rindo...”.
Ela parece derrotada,
vai ter de admitir o motivo de seu riso fora de hora, “Alice disse que não conseguia te imaginar transando”, e sorri
abafado, lembrando da conversa com a amiga durante o almoço. Ele observa o
pôster de ‘Ieri, Oggi, Domani’, Mastroianni e Loren observam de volta, pendurados
na parede dela. Ele coça a cabeça, curioso “é?
E por quê?”.
Os dois permanecem
encostados na porta de entrada, como se tivessem que discutir esse mérito antes
de prosseguirem. Ela pensa que Alice vai pagá-la por ser a responsável por essa
destesada monstra no meio de uma transa casual, respira fundo e solta “porque você é bonitinho”.
Agora quem ri é ele;
que tipo de tese é essa? “Então gente
bonitinha não transa?”. Ela retribui o riso, se dando conta do nível
catastrófico e absurdo que esse tópico alcançou, ‘and not a fuck was given’, pensa
ela em terceira pessoa, contrai os olhos em certo constrangimento, mas não
perde a dignidade, “tipo isso...”.
Ele desliza as mãos
que antes estavam sobre os ombros dela até os cotovelos e a traz para mais
perto, “não entendi, na verdade”. Ela
aproveita o momento para jogar o peso sobre ele, conectando novamente os corpos
em toda a extensão. “ah, Paulo, nada. Gente
fofinha, sabe? Gente bacana demais, educada demais... pessoas ‘bonitinhas’,
certinhas... ela tem a impressão de que gente assim não transa”, então
desliza as mãos das costas dele até os glúteos e os agarra com força, “aí você faz isso comigo, me pega desse
jeito. Tive que rir, parecia surreal”.
Em uma reação
espelho, as mãos dele de repente estão de volta à bunda dela –suavemente agora,
“surreal? Só porque eu sou educado não
significa que sou celibato”.
A dúvida sobre o
celibato dele não está em discussão, levando os últimos minutos em
consideração, ela sabe disso, “é, foi o
que eu disse pra ela. Mas a gente é meio assim, sabe? Tem mania de imaginar as
pessoas transando, um semi-voyeurismo maluco...acho que todo mundo é meio
assim...”.
Ele parece satisfeito
com o fim da discussão, “olha, Fabi, não
curto muito observar, não...” e gira os corpos de maneira que ela está
contra a porta agora, parece que nunca vão passar da entrada, “...nem imaginar...”, e solta o coque do
topo da cabeça dela, os cabelos caem em uma cascata sobre os ombros e ele
observa, “então, se a gente puder só, de
fato, transar...”.
Ela solta um suspiro
de alivio debochado, “juro que ia miar
todas as fodas da Alice se ela tivesse brochado a nossa...”, ele parece
positivamente surpreso com a vontade dela e ela se aproveita disso, se apoia
sobre o peito dele e sussurra dentro do ouvido “... só tenho uma dúvida: afinal, gente ‘bonitinha’ transa, fode ou faz
amor?”.
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