Queda Livre

3.9.13


Uma das coisas mais fáceis da vida é esquecer-se de si mesmo. Colocar a prioridade dos outros acima da sua, a revisão do carro, o monte de e-mails no trabalho, a hora extra, o trabalho de conclusão da faculdade, a louça para lavar, o último episódio daquela sua série favorita. E, assim, esquecer-se das suas necessidades como alma, de quem precisa de um minuto de silêncio, de um abraço.

Pode não parecer de propósito, mas é. “Esquecemos” de nós porque parar para pensar no que realmente precisamos é muito mais complexo do que parece. Pensar se as pessoas com quem você convive são necessárias e te fazem bem é ter de pensar em como se desligar delas posteriormente; pensar se seu trabalho lhe faz bem é ter que pensar em como criar um novo trabalho, um novo caminho. Pensar se seus hábitos são bons para você é ter que parar para pensar em novos hábitos e largar velhos vícios.

No fim das contas, “tá ruim, mas tá bom”, sabe? Parar para pensar no problema é ter que encontrar a solução ou conviver com a culpa de não conseguir resolvê-lo.

Então, a gente escolhe esquecer-se de si mesmo. Enlouquecer com o trabalho, mergulhar em relacionamentos degradantes, aceitar situações negativas e engolir muito, mas muito sapo. É, sapo para caralho. E não é só dos outros não, são aqueles que vêm de dentro, sobem à boca e você os engole de volta; de coisas que você sabe que não te fazem bem, mas você decide ignorar.

Nesse caminho, você desiste de você. Fica no trabalho que não te satisfaz porque não tem forças suficientes para dizer “não dá mais”; não corta relações porque não aguenta a previsão de ficar sozinho por um tempo; continua comendo mal, dormindo mal porque acha que não há recompensa sem sofrimento; adia o gastro e a azia aumenta. E você sabe exatamente porque esse ciclo acontece com você, mas está num furacão tão denso que não consegue pular fora, então você vai para onde ele te levar. Bom, é bem provável que seja para o buraco negro.

Você muda por vontade ou por tragédia. Um simples intervalo e uma respirada mais profunda poderiam te poupar a gastrite, os remédios e as lágrimas. Mas falta a coragem de parar, pensar, planejar e seguir de onde der. E imaginar que isso te pouparia anos de infelicidade.

Queria que fosse como receita de bolo de framboesa com amêndoas e eu pudesse dizer: “olha, eu fiz e deu certo, viu? Faz lá, bonito.”, mas não é e eu ainda não testei. Até já parei e pensei no que preciso para ser feliz, mas sou do time das pessoas que convive com a culpa de não conseguir resolver o problema.

É preciso ter disciplina para ver os caminhos com clareza, em vez de praticar autossabotagem e procrastinação. E posso afirmar, é exatamente isso que costumo fazer. Adio e encontro defeitos nas coisas que faço para fugir da possibilidade de fracassar. Se não fiz, não tem como errar. E aí, nada acontece; nem bom, nem ruim.

Então, tratemos de encontrar um equilíbrio entre o medo de errar e o medo de estagnar. Aprender as vantagens de estar em queda livre e balancear entre as borboletas no estômago e o pânico paralisante que precede o salto. Ter foco no objetivo é saber onde é o fim, mas nada nos impede de relaxar e se deixar levar, apreciando a paisagem.

QUE TAL MAIS UM?

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