O vazio do amor

8.3.09

Entraram no vagão. Dois. De mãos dadas. Homem e mulher. Menino e mulher.

Ele aparentava ter não mais que vinte anos, carregava, com o fulgor da idade e o desejo que os hormônios lhe proporcionavam, sua companheira.

Ela, já experiente. Aparentava ter passado dos quarenta. Pensei que eram filho e mãe. Ledo engano. Eram namorados e apaixonados, de sua forma, claro, meio desajeitada e tímida da parte dela diante da situação a qual estava exposta para todos no metrô. Ele a agarrava e a beijava como se não houvesse amanhã. Deixava que todos vissem a que veio.

Tive a impressão de mãe e filho mais uma vez. Apesar de estarem se beijando na boca, ela parecia olhá-lo com ternura. Havia certo tom de deboche em seu olhar terno. Talvez ela já soubesse o quão imaturo e inexperiente seu companheiro era, o que dava para notar de longe, já que usava uma daquelas roupas tento-ser-rebelde-mas-mamãe-comprou-minha-roupa, não que isso seja algo ruim, mas ela sabia que aquilo não passava de uma fase. Ele logo começaria a trabalhar, enquanto ela estaria se aposentando. Ele querendo sair. Ela querendo ficar. Ele com vergonha de levar a namorada-mãe aos churrascos de amigos. Ela com vergonha de apresentar seu peguei-para-criar para as amigas do bairro. Enfim, já havia começado sabendo que ia acabar, aliás tudo tem um fim, desculpem o clichê, mas é verdade. Nem o amor eterno é eterno. Você por um acaso sabe o que tem depois daí? E se é que tem...

Voltando ao casal. Ele sentia-se grande e a cobria por inteiro com seu orgulho e auto-afirmação. Ela ria.
Ele de costas para a porta abraçava uma mulher que olhava para o vazio, para o inexistente, não fazia idéia de que talvez, esse vazio que sua companheira olhava, fosse o vazio interno que sentia e que queria que fosse preenchido, por isso buscava algo no ar. Não encontraria ali, com toda a certeza.
Ele poderia até ser feliz, mas para ele era apenas a conquista. Eu sentia, eu via nele a satisfação de mostrar a todos naquele vagão que ele conseguira o que queria com sua ingenuidade de moleque. Finalmente podia se gabar. Provavelmente já havia tomado alguns foras de garotas da sua idade e agora poderia triunfar sobre as mesmas dizendo: “está vendo como eu posso? Aqui estou eu! Olhe para mim e minha conquista!”

O trem parou na minha estação, desci, olhei novamente para o vagão enquanto subia as escadas rolantes. Não mais os vi. Não sei o que houve nem como está.
Talvez eram só mãe e filho, mundo moderno.

QUE TAL MAIS UM?

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