Brainstorm II

2.4.09

E de repente tudo o que lhe restava era fugir.

E de repente tudo ficou tão claro quanto a água que escorria por suas mãos. Era a hora de quebrar vínculos, laços ou até braços se fosse assim preciso.

Tudo o que lhe impedia de seguir agora já não fazia tanto sentido, não tinha tanta importância. Toda uma breve vida desperdiçada por uma preocupação exagerada que não podia impedir que o tempo parasse ou regredisse, que não impedia de se machucar mais do que ontem, menos que amanhã.

É talvez a última boa chance de ser alguém por si só, uma chance de ser feliz por conta.

Já não lhe agradava mais fantasiar vidas que talvez nunca existirão. Imaginar destinos que não davam mais tempo de acontecer. Já não lhe satisfazia viver voando entre visões de sucessos nunca tentados.

E o desespero logo tomou seu interior como se fosse se afogar na própria angústia. A constatação do erro era tão óbvia e clara que sentia a estupidez bater-lhe à porta.

A verdade é que mal sabia se a felicidade havia lhe batido à porta outrora. A verdade é que tudo lhe escorria pelos dedos que mal via para controlá-los, estavam envoltos de fuligem.

O vento lhe pareceu agradavelmente delicioso de se provar. Cheiro da liberdade mal administrada, mal vivida. Das tentativas mal intencionadas de pessoas muito mal intencionadas em lhe fazer feliz. Tudo o que queriam era tripudiar em cima da derrota para assim triunfarem por seus próprios méritos. Não podemos culpá-los, somos todos assim. Uns mais que outros.

Correr lhe parecia plausível. Só a si parecia certo. Correr não! Voar! Voar lhe parecia mais rápido e indolor. Voar para o mais longe que conseguisse.

Mais do que querer, precisava. Era o ar que procurava a tanto mas sempre que tentava encher os pulmões era tudo poeira que lhe embaçava a visão e cortava os pulmões como se fossem facas.

A visão do sol e o céu azul lhe encheram o estômago de expectativa. Sentiu fome.
Parou. Fechou a torneira e retornou ao quarto.

Olhou para o chão e os pés ainda estavam lá, grudados na realidade mórbida da cidade cinza. Sabia o que precisava, mas nem por isso estava tudo resolvido.

QUE TAL MAIS UM?

0 Comentários