Folk Wedding

7.3.11

Debruçou sobre a janela para sentir o vento que vinha do final da rua, perto do 378, perto da cerejeira carregada que fazia jus ao nome de sua rua ladrilhada. Sentia o sopro chacoalhar-lhe os cabelos do segundo andar de sua casa assobradada, de fachada lilás e portas e janelas brancas.
Olhou de volta para as malas prontas, postas ao pé da porta que dava para o closet. Olhou de novo para o pé da porta esperando que se mexesse. E não viu nada.
Pausou o Blind Pilot que tocava em seu dock sobre o criado-mudo. Pausou o vento fechando as janelas. Lá vamos nós.

Seu conjunto de malas carregando esperança de um novo olhar. O closet vazio, nem sua velha escova de dentes vermelha pousava mais sobre a cantoneira do banheiro de pastilhas. Seus quadros de influências e costumes jaziam em caixas etiquetadas cuidadosamente. Seus discos perdidos entre os dvds e seus livros já haviam partido junto das roupas e produtos de limpeza. Seu tapete enrolado, atrás da porta. E seus sapatos ocupavam quase metade do carreto.

Um suspiro lhe escapou os lábios e pareceu-lhe profundo demais. Um suspiro e nada mais. Talvez fosse cansaço, talvez já fosse saudade da solterice que nem havia se livrado ainda.
E agora, por uma vida a dois ela se encaminhava. Por um casamento simples, regado a folk music. Seu futuro marido tinha um gosto apurado no que se tratava da trilha sonora e eles combinavam como Mumford & Sons e banjo, como Noah & The Whale e vinho, como The Tallest Man On Earth e um bom jantar a dois.

Havia escolhido se acalmar, escolher um sofá a dois ao invés de duas poltronas. Havia escolhido ser a esposa de alguém ao invés de ser a mulher do mundo. Poderiam, juntos- e eles se prometeram- serem cidadãos do mundo, serem o casal do mundo, das estradas e aeroportos. Ou simplesmente o casal casado dos cinemas aos domingos a tarde.

E que assim fosse. Vestido, sapato, banda, altar, convidados e bolo. Tudo acertado, tudo perfeito.
A buzina soou novamente. Nada restara de sua juventude solitária, enfim. Como havia desejado, o próximo passo acontecia.

Tomou em suas mãos suas últimas malas, com seus últimos pertences. Desceu as escadas pela última vez. Girou as trancas da porta da frente pela última vez e pela última vez vislumbrou a cerejeira ao lado do 378. Acenou para o vizinho do 203 e entrou no carro. Que acabassem, enfim, seus dias de solidão.

QUE TAL MAIS UM?

0 Comentários