Se pudesse ler minha mente.

26.3.08

Na escuridão perversa que a noite trazia, caminhou por entre as ruas desertas, querendo nada mais do que sentir que estava certo. Seus passos se tornavam cada vez mais pesados e seus olhos mais profundos. Sua escolha poderia ser errada, mas não havia mais tempo para arrependimentos.
A cada barulho um novo olhar sobre as últimas coisas que guardava em sua memória já cheia de impecílios para seguir. Desculpas. Desculpas para tudo o que havia para fazer.
O lúdico e imaterial desmediam suas palavras, distorcendo suas verdades. A consciência do que dizia não mais lhe pertencia. Não fazia questão de estar sendo delicado, apenas dizia o que achava de cada maldito poste e cada zumbido de mosquito que passava por ele.
Dentre todas as razões pelas quais levara a última medida estava a mais séria. Sua contrariação de si mesmo em ser alguém tão fraco, em não suportar sua insegurança e temor. Matando-se a cada dia um pouquinho ao levar-se ao mais baixo ponto onde podia enxergar. Não havia outra maneira de tirar de si o sufoco. Aliás. Havia, mas não lhe cabia julgar. Ele só executava e não pesquisava. Muito sabia. Pouco utilizava.
Por falta de uso, atrofiou-se e pôs-se a correr desesperadamente em direção ao nada. Em direção da morte. Seguindo-a passo a passo, querendo saber onde mora, o que faz e como vive (morre).
Sentou-se na calçada e começou a refletir. Coisa que os quase-mortos adoram fazer. Refletir sobre a vida. A vida que vai perder em instantes. Aquela que nunca viveu e nunca quis desfrutar. Deixa então ela ir, sumir no ralo e aí ele pensa, mas pensar não adianta mais e chora, mas o choro já não faz sentido e por fim grita, mas não de remorso e sim de dor. a dor que invade o corpo e formiga os dedos do pé. Vai subindo e matando seus tecidos, vai calando a voz que teu corpo possui ao mandar recados ao teu cérebro. Toma seu coração, enche ele de vazio, de escuridão e então já estás petrificado, já morreu como alma. O cérebro comete o maior dos erros. Resiste. Morre como a única coisa que tentou reagir.

QUE TAL MAIS UM?

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