Cambaleio de norte a sul num sopro de vento. No ventre, revira o vazio. Renasço de súbito; é o som, é o passo lento do desequilíbrio delirante de andar na corda bamba imaginária. Tropeço na inércia, tensiono, e me ralo em anestesia.
Enxergo o
dobro de vida. Gorjeta, sarjeta, que seja. Oi? Falou comigo? A fúria dos olhos
tenta fixar o ponto infinito que não para de se deslocar para ainda mais longe,
ainda mais rápido. Rasuro a calçada, invado o asfalto. Num salto, de assalto,
me assusto; o carro, que risca Augusta acima, buzina. Eu xingo e discuto com o
além- não há mais ninguém, o carro e seu motorista já passam da Lorena. E eu?
Tenho coragem de sobra num vício chamado embriaguez. É a última vez, eu juro.
E amanhã,
de novo, outra vez. E amanhã mais um copo, mais um corpo estirado no colchão. E
amanhã mais um gorfo espalhado no chão. Amanhã, mais um Eno, mais uma Aspirina,
mais contrição. Hoje, mais nada- mais um gole, talvez.
Amanhã,
amarrotado, debulhado e descrente. Quente, queimando, em estado febril. Na
azia, a coragem se esvai com a alegria, no ralo. A fúria não está mais nos
olhos, mas em quem me faz chegar em casa.
Mas amanhã
é depois. E agora? Agora é a hora, é hoje. Agora, o mundo ainda roda num
planetário ao contrário; sigo as estrelas no chão, vou aonde elas me levarem. Agora
o carrossel ainda me gira; eu propulsiono, mas não saio do chão.