18.5.08

...Eu já não sinto amor nem dor, eu já não sinto nada.

NADA.

Entrei pela porta intocada, sem expressão, esperando que algum olhar recaísse sobre mim para que eu pudesse encarar quem quer que fosse e exalar toda a raiva que eu tinha em mim. Entrei despercebida. Ninguém olhou. Raivosa, segui em direção do primeiro indivíduo disponível naquele limbo. Um homem em seus trinta anos, cabelos castanhos com alguns fios brancos que denunciavam sua idade, de corpo ereto e belos olhos, a barba por fazer lhe dava um ar rude, porém o deixava mais misterioso, mas desejável. Sentei-me ao seu lado, ele nem sequer olhou. Não me mexi. Mantive-me na defensiva, mas todos os meus sentidos gritavam para agarrá-lo o mais rápido que pudesse. Resisti.

Briguei comigo mesma, "o que fazia ali afinal?!", sentia-me suja e atirada, me sentia vulgar. Não me importei. Levantei e comecei a andar em direção ao toalete. Senti uma mão grande e pesada segurando meu braço direito. Foi tudo muito rápido. Ele me puxou contra si e me empurrou contra a parede. Apesar da certa "violência", me senti segura naqueles braços cheios de pelos que exalavam um cheiro masculino que deixava todos os meus hormônios a beira da insanidade, que me fez perder os sentidos por instantes preciosos, fiquei em transe. Fiquei presa entre a parede e o corpanzil que me pressionava cada vez mais. Quando o espaço que havia entre nós foi todo ocupado por nós mesmos ele me beijou. Ferozmente. Devo dizer. Sua barba me machucava e isso era estranhamente prazeroso Passou a mão em meus cabelos. Transpirei vontade. Transpirei e evaporei toda a raiva que um dia esteve incubada em mim. O beijo terminou com ambos extremamente sem ar. Suspirei alto sem abrir os olhos. Ele me abraçou e não dissemos uma palavra sequer. Tínhamos medo de ser mentira. Tínhamos receio de estragar tudo conquistado até então. Abri os olhos. Ele me olhou o mais fundo que pôde e sussurrou algo quase inaudível. Disse que nunca havia feito aquilo com uma dama, que ele havia sido rude, mas que nunca se sentira tão enlouquecido e disse que seguiu seu coração. Que sabia que era eu que ele queria. Com o rímel borrado olhei para ele e disse que havia feito certo e que assim fosse. Entrei no toalete. Respirei fundo e ri sozinha. Saí de lá jurando que ele havia partido, mas lá estava ele, com seus olhos profundos e desejáveis, sorrindo para mim.

Agora eu sinto. Sinto mais do que deveria e isso me dá medo. Entregar-me cegamente pode trazer conseqüências irreversíveis, mas eu arrisco e peço por mais.


Por Raquel V.

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1 Comentários

  1. Oi
    Odeio ficar como essa música "já não sinto nada"... Estou num momento assim. Belo texto.
    Beijokas

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