Tears Dry On Their Own

23.1.08

Não pense em nada, não queira nada, não diga nada e não se mexa, de forma nenhuma. Apenas deixe que as lágrimas caiam sozinhas, sem pedir, sem forçar, sem querer. Seja por amor, dor, felicidade, compaixão, saudade ou apenas para lavar os olhos; deixe que flua.

Tente sentir que não há sensação melhor do que essa, lave a alma assim como a lágrimas lavam seu rosto. Sinta o gosto do choro, sinta toda a angústia que habita seu peito se dissipar. Sinta todos os seus medos e preocupações acabarem. Apenas chore.


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Enxuguei as últimas lágrimas que brotavam no canto de meus olhos vermelhos, minhas pálpebras inchadas quase se fechavam sozinhas, meus pés formigavam. Eu o vi virar as costas e caminhar como quem caminha ao infinito. Não parou, não olhou para trás uma vez sequer; dispensou qualquer palavra que pudesse haver em seus lábios intactos e livres de qualquer sentimento. 

Senti mais algumas lágrimas percorreram meus lábios, senti o gosto salgado da derrota. Senti a frustração tomar meu corpo. Havia perdido a batalha e a guerra. Sequei novamente as teimosas lágrimas que insistiam em cair, com raiva, ferindo a pele de meu rosto para que eu sentisse uma dor provocada por mim.

Eu havia me enganado afinal, mas não desistiria de mim. Meu amor próprio gritava dentro do peito para que eu levantasse a cabeça e risse na cara do primeiro que tentasse me ver no chão. Sim, eu me enganara; pensei que havia encontrado o homem com quem dividiria minhas angústias, minhas surpresas, descobertas, felicidades. Encontrei ciúmes, encontrei alguém que não se amava e que não havia jeito de mudá-lo. Não que quisesse, nunca foi minha intenção. Quis que fosse ao seu modo, para descobri-lo como era, a cada dia.

Por diferenças intermináveis, tomei a dianteira: disse que não poderíamos mais nos ver. Aí, ele resolveu reagir; levantou a voz como quem não tem razão -e ele não tinha, e questionou se havia outro, me dizendo que eu não me bastava só com ele. Ignorei sua arrogância e prossegui, disse que não havia mais meios de nos sustentarmos como estávamos, que minha vida se transformara num completo inferno e eu não podia mais me ver, nem pensar em mim sem antes questionar se ele consentiria. Perdera minha liberdade, minha vida esvaíra-se. 

Ele gritou, disse que eu não tinha escrúpulos e que eu havia usado-o todo esse tempo, sem pensar duas vezes não manteve a compostura e soltou um sonoro: "Vaca!". Pronto. Sua paciência havia acabado. A minha também. 

Achei que todo o amor que eu havia depositado naquele ser, acabara naquele instante. mas, a verdade é que o amor não estava mais presente; que não era isso que eu sentia efetivamente. Eu me virei e não consegui mais olhá-lo nos olhos, ele começou a andar e disse que eu haveria de me arrepender do que estava fazendo.

Eu chorava, mas por ter sido atingida sem ter feito nada. Chorava por ele, por tudo que ele não conseguia chorar, chorava pelo fato de saber que ele nunca mudará e que tudo que eu havia feito fora em vão. Senti-me inválida, mas ainda tinha algo em mim que não me deixava cair: as lágrimas que me purificavam por inteiro, mas que eu me dava ao luxo de tê-las só para mim, de ser egoísta e mantê-las no sigilo de meu quarto.

QUE TAL MAIS UM?

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