Mudei os móveis da sala de estar ontem. Troquei a posição do sofá de dois lugares, troquei o quadro de Annie Hall de parede e a mesa de centro agora está no canto. Cortei o cabelo na semana passada; dois dedos e uma franja. Nada demais.
Organizei minha gaveta de
inverno. As blusas por modelo (gola alta, careca, em v) e por cor (em degradê).
Joguei umas monografias da faculdade fora. Coloquei até meus casacos ao sol.
E é assim, quando a vida está uma
bagunça e a cabeça não tem mais espaço para criar histórias. Então eu mudo coisas de lugar. E o
faço porque não há mais nada a mudar. O cotidiano, o trabalho, a família. O que
foi feito e dito, está. Não dá para mudar. Então mudo o que não é passado, movo
o que se tira do lugar, corto o que cresce de novo, rabisco o que dá para
apagar.
Até que as constantes se tornem voláteis,
até que se quebre a rotina e o ‘repeat’ se torne um ‘random’, eu continuo mudando o tapete de lugar.