A metrópole me engole num surto megalomaníaco.
Queria tempo para sobrecarregar-me da melancolia da incerteza diária. Para acordar e ver no que dá. Para acordar com o destino volúvel e impreciso de dias de chuva. De minutos de silêncio, de tempo e de timbre. De massa, anteposta ao portal que se fecha sobre minhas costas, viro e me deparo com quatorze por metro quadrado, eu inspiro. Ele se move, eu expiro. O expresso de metal frio que espreme a todos nós, me leva garganta abaixo da metrópole atrasada, eu suo.
Aquele tempo que clamava por ter, se vai, nos minutos contínuos em que paramos todos juntos, emaranhados uns aos outros na escuridão da laringe da cidade, enquanto observamos o atraso nos alcançar e não aprendemos nunca. Todo dia o mesmo horário, o mesmo sofrimento.
A tal metrópole nos fez refém dessa relação sado-masoquista entre o capital e o alívio. Continuamos a nos debater porque a sensação de alívio quando paramos é incontestávelmente boa.
E por horas nos escoramos no ponto, esperando o relógio maldito bater seu próprio horário e nos torturar no caminho de volta, lotado. De novo.
Perdoai senhor, esses trabalhadores não sabem o que dizem. São crias de uma era, de uma história escrita por um analfabeto, que quis nos fazer de idiotas e fingiu rabiscar num papel de pão. Damos, então, vida ao nada. À ilusão que permeia nossa existência. Salgamos carne podre pois a inflação é perigosa. Damos murro em ponta de faca porque nos convenceram que o Senhor vai nos salvar. E quem nos explica o contrário? Não há. Eu podia matar, roubar, senhor, mas tudo o que peço é sua carteira emprestada, sem devolução programada. E se me permite, levarei este aparelho eletrônico falante que carrega com você. Amém.